KÔ ET KÔ, LES DEUX ESQUIMAUX

“Criar não apenas as imagens mas uma história que as interligue é a intenção de VIEIRA DA SILVA ao avançar com o projecto KÔ ET KÔ, em 1933. Não se sentido capaz de escrever o conto que tinha inventado, Vieira da Silva pede ao seu amigo Pierre Guéguen que assuma essa tarefa, seguindo o guião por ela definido. Para si a pintora reservou o papel de ilustradora, guiando-nos, com os guaches que executa, pelo mundo dos dois esquinós. (...) A galerista Jeanne Bucher, depois de ver o referido trabalho, propõe-se ela a editá-lo. A propósito do lançamento do livro organiza aquela que foi a primeira exposição individual de Vieira em Paris(...).

Mas do que fala Vieira na história que imaginou? Na realidade trata-se de uma demanda: Kô e Kô partem em busca do sol. Atravessam territórios estranhos, cruzam seres bizarros e o próprio céu se torna o destino da viagem. (...)

Se há um lado passivo na relação com o livro há, da parte de Vieira da Silva, uma vontade de subverter a relação com a história nele contada. O livro continha então duas pranchas com desenhos das personagens que deveriam ser cortados e montados. O leitor tornava-se num interveniente activo porque fisicamente passível de poder continuar a epopeia de Kô e Kô. O livro de Vieira é então um objecto em construção, uma história em acto feita a diversas vozes (e a diferentes mãos...).

Na garupa do cavalo-seis-patas Kô e Kô aguardam pacientemente. Querem seguir a viagem. A galope! Sentados numa estrela Kô e Kô apontam a luz intensa de um holofote sobre o palco. Atenção... Silêncio! O espectáculo vai começar.”

Ana Ruivo in Kô et Kô e outras histórias, Lisboa, Fundação Arpad Szens- Vieira da Silva, 2001

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